Translate

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Pergunta da época

A tragédia do incêndio de Monchique é válida (o suficiente) para o presidente da República não se recandidatar às próximas presidenciais?

terça-feira, 10 de julho de 2018

Frase do dia

Se for conveniente, se tiver recursos para isso, (...), podemos estar a falar dum caso interessante. Assunção Cristas.
Líder do CDS referindo-se a uma proposta do PCP, sobre o Estado fabricar medicamentos. Um bom exemplo do que é sair por vezes do "pântano" político em que vivemos.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Sobre o conhecimento

Era bom que o conhecimento e a sabedoria fossem qualquer coisa assim, capazes de deslizar como um líquido, do mais cheio para o mais vazio, sempre que estivéssemos em contacto uns com os outros.
Platão

Mário Soares no Panteão

Penso que os restos mortais das personalidades que possam ser transladadas para o Panteão nacional  -justamente- o devam ser após duas gerações. De maneira a que seja uma geração futura, que não guarda memórias, a fazer o julgamento da importância do contributo da pessoa em questão. E com Mário Soares a mesma coisa. A memória e as recordações enganam-nos e mentem-nos. Adaptam-se a nós e às nossas vivências. Reviver as alegrias (comuns), os entusiasmos, os amores, como se tudo fosse intemporal e infindo para uma geração é desconhecer o verdadeiro peso da nostalgia. As memórias manipulam a realidade. Muitas vezes ouvimos frases como "antigamente é que era bom...". Antigamente, pois, quando éramos jovens e tudo parecia informe, os sonhos e a vida. O passado impõe-se e as lembranças de ontem pesam mais que a realidade do momento. "A moldura substitui-se ao quadro". E serão os feitos de Mário Soares, indeléveis, impossíveis de esconjurar, que ficarão para sempre, e serão as gerações futuras que, cientificamente, irão reconhece-los. 
Daqui a cinquenta anos, concordo que se deva entrelaçar os seus restos mortais no Panteão nacional.
Cristiano Ronaldo é o único português vivo que pode enfatuar-se por ir para o Panteão quando morrer.

domingo, 24 de junho de 2018

Jornalismo


Estava a vaguear pelo youtube, tentando ver excertos de entrevistas de pessoas que aprecio ouvir e ler e encontrei este fragmento de uma entrevista a Miguel Sousa Tavares, que parece vaticinar na altura, sobre os tempos de hoje.

terça-feira, 12 de junho de 2018

A Frase do dia

Há campeões do "Brexit" e vítimas do "Brexit".
Paulo Rangel

O Perjúrio da Comunicação Social, e não só

Da ERC também. 
A vontade do povo em absorver futebol é ávida, e a comunicação social, contra a moral deontológica do seu dever, alimenta-a, ad nauseum. Eu não pago um canal de notícias para estar sempre a ver futebol. Para isso há canais como a Eurosport, Sportv, Benfica Tv, etc. Eu entendo que à maioria das pessoas não lhe interesse outros assuntos se não os do futebol, dos Brunos de Carvalho, do salário petulante do Ronaldo (e de outros), do aeroporto do Ronaldo. Eu entendo, mas não consigo ser complacente face a essa realidade. A função da comunicação social não é mostrar o que a maioria quer ou gosta por se interessar. Não. Têm um dever que é informar com notícias importantes, e impreteríveis a qualquer cidadão. Os telejornais, por exemplo, que deviam ser curtos e precisos nas notícias são o oposto. Longos e sensacionalistas.
São horas e horas semanais, intermináveis que não se esgotam, de tempo de antena dedicado ao futebol. Não acredito que noutros países desenvolvidos se passe o mesmo que por aqui se passa.
A ERC em vez de regular e não colaborar com a insolência desta pouca vergonha, ignora-a. 
Muitas vezes, faço o seguinte exercício: ligo a televisão numa hora qualquer: ainda antes de a tela ligar a imagem, já ouço uma voz a dizer "Ronaldo". Desligo de imediato. Passado duas, três horas, novamente ligo a televisão e novamente é futebol a notícia da hora. Depois de jantar, programas (de futebol) invadem e ocupam o tempo de antena em todos os canais. E é este ciclo onde vivemos, onde a montante está a impudência das televisões e a jusante as audiências. Um outro modelo das televisões é a aposta na observância (e tem a sua piada). Quando por vezes metem pessoas que falam de política, como Pedro Marques Lopes, Santana Lopes, Daniel de Oliveira, e outros, enfim, "pessoas sérias e conpíscuas", a falar de futebol. É como se estivessem a dar um ar muito mais sério por serem pessoas que também falam de política. Essas pessoas não têm é vergonha na cara.
Num outro dia, ouvia Arménio Carlos, esse (mal) famigerado por quem luta pelos direitos dos trabalhadores! a falar na Sic Notícias. Foi interrompido porque "o tempo dessa conversa é muito condensado". Se não passassem a tarde a falar da merda do futebol e do Ronaldo, talvez já aí houvesse tempo para se discutir os problemas laborais.
Deixo já aqui a minha esperança: espero que Portugal não chegue a passar a fase de grupos neste mundial de clubes.

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Qual é a diferença entre um juízo de valor relativo de um juízo de valor absoluto?

Será que a diferença está na ética e na moral? Talvez. Se uma apreciação julgar um acto eticamente  (ou moralmente) "bom" ou "mau" será um juízo absoluto. Já um juízo em que nada envolve a ética mas apenas a estética, como por exemplo a frase "jogas muito mal ténis", é um juízo relativo. Jogar mal ténis, mesmo que o jogador (por moto-próprio) o faça convictamente, intencionalmente e racionalmente, simplesmente por lhe estar a apetecer jogar "mal", e não "bem", mesmo que saiba fazê-lo de maneira profissional, não é um acto eticamente errado. A não ser, claro, que o esteja a fazer para influenciar algum tipo de resultado. Mas, vamos supor que não o está. Já na frase "estás a dizer muitas mentiras, e isso é um comportamento reprovável" estamos a falar de um juízo absoluto, porque mesmo que a personagem returca através do seu conhecimento sobre o caso, e esteja a mentir por ter essa intenção e não outra, mentir é, muitas vezes, errado.

Nota: eu acredito que jogar mal ténis por vontade própria, mesmo que por detrás dessa acção não esteja nenhuma razão eticamente incorrecta, como a manipulação de resultados, não consista num acto puramente ético. Não há nenhuma lei penal que nos proíba de mentir -a não ser em tribunal, perante um juíz-, (já constitucional haverá muitas), e também não há nenhuma lei que nos proíba  jogar mal ténis, voluntariamente. Mas é desagradável perante um adversário, cuja vontade fosse passar tempo de qualidade, nós o impedirmos disso, punindo-o assim, simplesmente, por estarmos a jogar mal, quando podíamos estar a jogar bem, se nos envidássemos. Até porque, um indivíduo que jogue bem ténis conceptualiza a ideia do desporto "ténis" como bem jogado, e não como o seu contrário. Estaria assim a mentir à sua natural concepção do "ténis" jogado.

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Mulheres mineiras

Há oitenta anos atrás, a Organização Mundial do Trabalho criou o artigo que proíbe os indivíduos do sexo feminino trabalharem em minas subterrâneas. O Governo português insufla e apela aos deputados, permeio do parlamento, para se desvincularem desse artigo, permitindo assim, na teoria, às mulheres trabalharem como mineiras. Isto em nome da igualdade de género. Este embevecimento  exacerbado pela igualdade, à força toda, apaga o bom-senso. É óbvio que esta (nova) medida  não vai aumentar o número de mineiras em Portugal; mas por que se há de apagar uma lei cujo propósito é uma discriminação positiva? Possivelmente, na altura, para proteger as mulheres da pobreza dos tempos, impedindo-as assim de se submeterem a trabalhos que não têm vocação nem perfil, pela perigosidade.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Menina dos Olhos Tristes

Menina dos olhos tristes,
O que tanto a faz chorar?
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.

Senhora dos olhos cansados,
Porque a fatiga o tear?
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.

Vamos, senhor pensativo,
Olhe o cachimbo a apagar.
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.

Anda bem triste um amigo,
Uma carta o fez chorar.
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar. 

A Lua, que é viajante,
É que nos pode informar
- O soldadinho já volta
Do outro lado do mar. 

O soldadinho já volta,
Está quase mesmo a chegar.
Vem numa caixa de pinho.
Desta vez o soldadinho
Nunca mais se faz ao mar.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Rendimento básico universal

Para Bagão Félix, o rendimento básico universal (RBU) é um rendimento injusto, que ignora o mérito e promove o ócio. 
Será que Bagão Félix, se recebesse este rendimento cujo valor fosse 580€, iria deixar a sua profissão e sobreviver, apenas, durante o resto da sua vida, com esse abono? Discutir este assunto com alguém que se apresenta de má-fé perante o comportamento humano inviabiliza, de todo, a resposta eticamente válida sobre este assunto.

quinta-feira, 31 de maio de 2018

Em relação à eutanásia

Não vou expor neste artigo a minha opinião sobre o tema. Apenas uma objecção à prática na Suiça, conforme a lei que vigora nesse país. Pelo que li no Público, na Suiça apenas é permitida a eutanásia se por detrás dessa opção, não estiver nenhuma racionalidade egoísta. O que se passa nesse país diverge totalmente dessa premissa. São duas empresas, a Dignitas e Exit, que retiram a vida às pessoas que pretendem morrer de forma voluntária. Pergunto o seguinte: o que é, senão um acto puramente egoísta, um acto de negócio?

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Na Política vale tudo

Vale mesmo. E desengane-se quem pensa que não. Ataques pessoais são permitidos. O caso mais recente e simbólico que me recordo é o da armadilha que o Governo estava a preparar para uma eventual vitória de Santana Lopes - e bem. A política não é para meninos. E compreendo, não expondo a minha concordância ou rejeição, apenas compreendendo, que o Partido Socialista esteja a lutar pelo segmento mais conservador da sociedade, juntando-se a esta onda de indignações sobre os casos de Manuel Pinho e José Sócrates. Só que sem rigor nenhum. Primeiro, confundem Manuel Germano com género humano, não distanciando a operação marquês ao saco azul do Ges. Fernando Medina demonstra como a urgência ou a pressa são inimigas da perfeição: "Manuel Pinho tem de ir ao parlamento e, de uma vez por todas, dizer se recebeu, ou não, dinheiro da EDP enquanto ministro". Manuel Pinho não vai ao parlamento nesse âmbito. E mesmo que tenha perfeita consciência que é criminoso, nunca o iria admitir no parlamento. Isto parece-me básico. Há uma defesa e diligências a serem preparadas por parte da sua defesa; já Carlos César, o príncipe da moral, sente-se enraivecido. A sua indignação é exactamente da mesma natureza daquela que "as massas" se indignaram pelo seu chico-espertismo, ao acumular abonos com as suas viagens. Sente-se enraivecido por se aproveitarem do PS. 
O PS que até aqui estava a gerir bem estes casos, com comoção, agiu cegamente, como se aturdido pela reacção de Rio. Conseguiu dissimular os ataques ao Estado de Direito que a Sic e o CM fizeram. De um momento para o outro, todo o espectáculo que nos proporcionaram tornou-se anódino, compreensível e útil.
Percebo que seja para agradar o eleitorado. Mas parece-me que foi uma péssima jogada.

segunda-feira, 30 de abril de 2018

Bryan Ferry

Quando a palavra música me vem à cabeça, duas outras imediatamente me ocorrem: Bryan Ferry. É um verbete perfeito para a definição de música, genialidade, arte. Todas as músicas, sejam da sua produção a solo ou de Roxy Music, são autênticas obras-de-arte. E tudo surge a partir da sua compleição. Um compositor viciado no trabalho, na música, na perfeição, que sofre como os poetas e escritores para encontrar as palavras que procura; é assim que o defino. Ferry diverge-se pela sua extensa discografia de originais e pelo seu trabalho em que lapida as músicas de Bob Dylan, ou de outros, como Jealous Guy, de John Lennon, (em sua homenagem), entrando nelas e transformando-as em músicas perfeitas; assinalo o álbum Dylandesque, no seu todo, para consignar as suas interpretações fabulosas, e o álbum Frantic que contém também as músicas It's all Over Now Baby Blue, e Don't think Twice, It's Alright, e outras de sua própria autoria, que também são excelentes.
Há estudos (Bryan Ferry é um key study), documentários, entrevistas, programas televisivos, que revelam a reverência que ele merece, e comprovam como a sua música é de culto. A Universidade de Newcastle, onde estudou Belas-Artes, distinguiu-o com um grau honorífico.
Pode-se dividir Roxy Music, temporalmente, em dois períodos: antes e após Brian Eno. Os dois primeiros álbuns, com a participação de Eno (que se separou da banda após discussões com Ferry, presumo que após um espectáculo, as pessoas começaram a aplaudir enquanto vociferavam o nome de "Eno", e Ferry impôs-se, retorquindo que Roxy Music era a sua cara, -com toda a justiça-, e assim sobrepôs o seu nome ao de Eno)  Roxy Music (1972) e For Your Pleasure (1973), este último com as músicas que dá o nome ao álbum, e In Every Dream Home a Heartache (uma música assoberbada pelo enigma e poder acumulado, que se rebela com a guitarra do Phil Manzanera). Todos os seguintes, Stranded (1973), com músicas espectaculares, como Just Like You, Amazona, PsalmSong For Europe, em que nesta última Ferry canta em três línguas: inglês, francês e latim; Country Life (1974); Siren (1975); Manifesto (1979); Flesh and Blood  (1980) e Avalon (1982). Todas são boas. Obviamente utilizo esta linguagem num sentido relativo, apenas tento atribuir um valor conspícuo às suas músicas
A maneira como preenche as músicas com o detalhe revela a musicalidade opulenta. Sejam nas músicas de rock/punk, juntamente com a sua teatralidade em palco, ou nas mais calmas e românticas. É sem dúvida o meu músico de eleição, proeminente, que revolucionou toda a música do séc. XX. Não é e nem nunca foi um artista que encheu estádios, porque nem toda a gente o percebe ou alcança.
Anoto também as escolhas das capas dos álbuns, todas com mulheres bonitas, sensuais e voluptuosas.

terça-feira, 24 de abril de 2018

Auto-retrata-te

Um comentador televisivo ou radiofónico não está para o espectador ou ouvinte como um escritor (ficcionista) está para o seu leitor. As relações não são equiparáveis. É interessante, e por vezes deplorável, verificar isso.
Nos programas de comentário político portugueses, os comentadores que se esquecem de despir as suas emoções ao entrarem no estúdio acabam por ser os exemplos-vivo dessa normativa. No último Eixo do Mal, assistimos a  essa "cegueira", e muito mais: à fugaz conjectura de café, de grupo ou rede electrónica- cujo resultado foi menoscabado.
Vamos, num primeiro juízo, olhar para o auto-retrato feito pelo comentador Luís Pedro Nunes. Todos percebemos o perfil que traçou de si mesmo. Um ser-humano que se metamorfoseou num chibo do monte. Ele insistiu, insistiu até que a transformação ficou completa: transformou-se num animal repugnante, voluntariamente. Nem as tentativas de interpelação foram eficazes, os cornos e as patas acabaram mesmo por nascer. Como algumas coisas que, para nós, fazem tanto sentido, e para outros não. Mas neste caso, ele bem se pode esforçar que já lhe virámos as costas há muito. Quem qualifica como uma excelente peça jornalística ao que assistimos na Sic, denuncia o escárnio que sente por José Sócrates. Ele insere-se no grupo de pessoas que, seja qual for o desfecho do mega-processo Operação Marquês, só aceitará a condenação. A cura para todos os seus males, para poderem finalmente parar de fazer o sacrifício de terem orgasmos na televisão ao falarem do caso Marquês, será a sentença. Uma absolvição é impensável. Estão tão apaixonados pela telenovela, excitados, como cadelas em período do cio, doentes, cabras em fase de transumância, à procura do pasto, sempre comandados pelo ódio.
Em tudo vêem a culpabilidade. Seja pelo uso de códigos no diálogo, seja pelo comportamento ao longo do inquérito,  que para alguns, como li hoje no Público, por outra cabra do monte, "a voz e postura corporal dos arguidos são elementos fundamentais para a formação de uma convicção"; pelo argumento que face a uma bondade tão grandiosa do Santos Silva ao Sócrates, não haja motivos plausíveis para que Sócrates converse da maneira "opressiva" para o amigo. Como se tivesse que haver uma co-relação de tratamentos entre eles, para passar tudo a ser "normal". As coisas não funcionam assim, até porque é possível provar empiricamente que uma pessoa possa estar admoestada perante actos bondosos. E, alguém equilibrado forma uma convicção coesa  por causa de uma escuta que revela um tratamento entre Ricardo Salgado e José Sócrates por "Zé"?
Alguém razoável põe em causa a doutrina da justiça garantista? Alguém comedido pode ser indigente a essa condição que tanto nos protege: "mais vale um culpado cá fora que um inocente lá dentro"?  E o único argumento que encontram é o consequencialista: os interesses dos indivíduos são marginalizados, mas o colectivo, esse, é defendido. Mas até aí se enganam. Uma falha tão grave como esta num Estado de Direito nunca protege o cidadão. Em nenhum sentido. Só nos deve envergonhar.

domingo, 22 de abril de 2018

Reversão na Educação

O ministério da educação do governo anterior, liderado por Nuno Crato, encontrava-se em completa harmonia com o ministério das finanças - o rigor puritano implementado era o mesmo. Aproximação ao ensino tradicionalista protestante, ou a modelos de ensino dos países do norte da Europa; cursos de vocação profissional; afastamento da responsabilidade escolar em educar civilmente os alunos, com a retirada da disciplina de formação cívica, que a meu ver é importantíssima. Enfim, um panorama que, aos olhos do ministério actual e da maioria dos deputados parlamentares, vai de encontro aos interesses dum aluno, aos níveis da educação e civil. Verdade seja dita, as primícias do anterior governo foram todas assim: socialmente insípidas e fracassadas. Agora, lá nos vamos soerguendo. 
Os professores também não foram esquecidos, principalmente os contratados, cujo sofrimento profissional nunca será retraído por lei, nem pelos sindicatos. A própria condição profissional que têm (são profissionais , ou colaboradores, -palavra que não simpatizo nada-, aptos a darem aulas, num regime de subcontratação ao serviço do Estado) impede-os de se assumirem como professores, de profissão. E de facto, não o são. O dia 31 de Agosto, de todos os anos, para os contratados, é  fatalmente despretensioso. Os meses que antecedem o fim do ano lectivo são todos assim, caracterizados pelo tormento mental resultante da instabilidade futura. São dos poucos funcionários públicos com um contrato a termo. Já os vinculados têm muitos mais benefícios face aos contratados.  Dou o exemplo de na situação de um professor efectivo ter um horário incompleto, o seu ordenando mantém-se inalterado (por razões óbvias); já o do contratado varia em função do horário. O modelo de avaliação dos professores proposto (PACC) dava continuidade a essas desigualdades, alheias aos vinculados. Ou melhor, até nem eram totalmente alheias, visto serem eles os encarregados de vigiarem as provas dos seus "colegas". Sublinho também que esse exame tinha um custo monetário de 20 euros. Veja-se o tipo de capitalismo inculcado pelo governo anterior. A única coisa positiva destes azedumes, na perspectiva dos alunos, é o facto de conhecerem bem o país em que vivíamos, subjacente à governação de Passos Coelho. Isso, como disse na linha anterior, é positivo para os alunos, pois os preceptores conheciam bem a realidade.
Fico satisfeito pela mudança profunda que, de unicamente estrutural, da obediência paternal às disciplinas mãe e a índices comparativos com a "mítica Finlândia", passou a colocar outras áreas, como a educação física e cidadania, numa redoma que previne para o futuro. Áreas que impedem o aluno de ser pobre de espírito, com bons hábitos cívicos, dignos e humanos. Uma aproximação ao melhor do que a teoria sobre a Educação de Locke nos oferece: sermos bons cidadãos.
A educação é o que nos distingue dos outros. E uma bela maneira de nos distinguirmos é, por vezes, ignorar o interesse individual em nome de um que seja colectivo. Talvez assim não haja tanta procura pelo azar dos outros e nem limpássemos a boca com as costas da mão (sempre que vislumbramos o "lucro" fácil) demasiadas vezes.

quinta-feira, 19 de abril de 2018

A utopia dos 50%

No dia 20 de Setembro de 2017, discutiu-se no parlamento, em debate na generalidade, a lei que determina a autodeterminação de género. No entanto, sem votação, como José Ribeiro e Castro explicou, num artigo no Público, este debate foi interrompido, sem serem discutidas as linhas gerais da proposta - os princípios fundamentais desta norma. Ignorada assim a fase de generalidade, o projecto-lei passa assim para uma fase de aperfeiçoamento. Durante seis meses, os textos legais, que deveriam ser legitimados em plenário, foram trabalhados na subcomissão, entregues à revelia. Este trabalho, realizado nas mesmas circunstâncias da fase de especialidade, e que não o deveria ser, pois não foi aprovado pela maioria dos deputados, revela-se obscurecido. No fundo, os próprios deputados demonstram uma itinerância às suas funções.
Aproveito esta falha inconstitucional para denunciar a minha opinião sobre a lei da representatividade por género. Penso que esta lei torna-se numa imiscuição implícita à vida interna dos partidos. Os partidos, que sobrevivem através da expressão do eleitorado, têm por obrigação moral (desde sempre, numa democracia) escolher os melhores que irão representar o povo, convergindo com a doutrina partidária. Esta lei, em nome de um devaneio utópico, em converter os deputados a simples números e não em mérito nobre, resvala nessa moralidade. É ou não é verossímil que possam ficar de fora pessoas com maior qualidade política só simplesmente para satisfazer essa norma? Pois eu acho que sim. Se nas concelhias há um baixo número de participação feminina no poder local (argumento usurpado por Elza Pais), as razões serão outras (o baixo nível de desenvolvimento do interior, por exemplo, indirectamente, é uma delas). Ou como se o poder local se traduzisse na singularidade do Presidente da Câmara de um concelho.  Esta medida dominada pelo jugo do feminismo é uma afronta grave às discriminações positivas. Introduzir quotas de género directas mínimas num partido aceito e defendo, mas de uma maneira quase tão simétrica como 40%, discordo.
Se um partido criar, por razões estratégicas ou convicções éticas, departamentos com o fim a dar voz a cidadãs políticas, é uma responsabilidade que vejo com condescendência e respeito. Mas penso que seja injusto fazer disso regra a todos os outros.

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Viajar sem tretas

Já é um pouco tardiamente que escrevo sobre a polémica instalada na Assembleia da República, mais especificamente, sobre os abonos que deputados residentes nas regiões autónomas recebem para indemnizar as suas despesas de viagem. O caso mais sonante é do líder parlamentar do partido Socialista, Carlos César, pelo papel que desempenha no parlamento, como líder de bancada. No entanto, outros sete (dos onze deputados residentes nas ilhas) também acumulam os dois subsídios que, só eticamente, entram em conflito. Após a rescisão do deputado Paulino Ascensão (Bloco de Esquerda), que eu acredito que tenha gerado algum desconforto de consciência a todos que se inserem na mesma situação, por razões morais óbvias, espera-se agora algum movimento de defesa por parte de todos os outros. E, timidamente, chegou, mas já lá vamos.
Os deputados que residem nas ilhas têm direito a um abono, por parte do parlamento, de 500 euros semanais, independente se viajam, ou não. Ora, só esta premissa alude qualquer cidadão comum a comover-se com a situação precária destes cidadãos. E, para além deste subsídio de deslocação (como todos os outros deputados também integram, embora noutros regimes), estes deputados, residentes nas ilhas, têm direito (burocrático) a um outro subsídio: o da mobilidade social. A defesa lá surgiu, e exortou o argumento da validade, que é meramente informativo (o segundo abono existe desde 1989) e explicou que a duplicidade destes apoios é válida. Mas será justamente válida? E também, não esquecendo, evocou o argumento de que algumas partes do ano, os preços dos bilhetes são altamente inflacionados. A força desta última objecção, revela algum ímpeto por partes dos defensores que o usaram; algum nervosismo.
Essa lei, poderá existir, mas onde está o princípio de ir além da lei, pergunto. A decência tornou-se assim tão volátil desde quando? Será que os deputados não vêem que esse segundo subsídio é dirigido para outro tipo de cidadãos, que não exerçam funções parlamentares, por exemplo?
A maioria dos portugueses, sejam funcionários públicos ou do privado, que, por razões profissionais, são arrendatários de uma casa fora da sua cidade, com um salário bem menor para suportar esses custos, isto em nome da sobrevivência -e não da vida plena-, não lhes são auferidos esses tipos de apoios, ou então, quando os são, a burocracia para o receberem é muito maior, rigorosa e extensa do que a dos deputados.
Como um deputado não tem noção que a sua vida, sob um escrutínio permanente, que os seus truques, espertezas (claro que no sentido negativo da palavra) são motivo de ataque (e demissões), no mundo da política, faz-me alguma impressão. Esse desconhecimento irracional, ilógico, incauto, é uma batalha cujo político participa desarmado, sem protecção. Claro que isto é motivo para um político ser famigerado.
Seria um exercício curioso conhecer a opinião de todos estes deputados sobre a qualidade dos serviços prestados pelos CTT, visto ser esta empresa que fornece o levantamento, em cupões ou em numerário (desconheço francamente), aos beneficiários.
Rubina Bernardo, vice parlamentar do PSD e deputada eleita pela Madeira, que não acumulou estes dois benefícios, perfila-se, com essa atitude, à margem da nobreza de exercer um cargo político.

terça-feira, 17 de abril de 2018

Inquérito em directo

A última divulgação de excertos do inquérito a José Sócrates, apresentados pela Sic, abrindo assim de forma apelativa o telejornal, com essa promessa de sangue-fresco, consiste numa tentativa, fracassada a meu ver, de manchar e antecipar a culpabilidade de José Sócrates. Este processo, que é marcado pelas sucessivas violações do segredo de justiça, é agora marcado pela desobediência da Sic, partilhando a divulgação destas gravações. Conhecedora dessa desobediência, o cálculo (custo-benefício) é simples: vale a pena desobedecer, em nome das audiências. Em relação à violação do segredo de justiça, deixem-me dizer o seguinte: na minha opinião, não se trata apenas de uma violação concreta a um direito do arguido, também o é, pois essa lei existe face à existência dum arguido, mas também é uma violação grave a uma lei própria do Estado de Direito.
Uma opinião mais objectiva, propensa a uma análise humana e sensível, da argumentação dos procuradores, em certos momentos, leva-me a pensar na insensibilidade das pessoas que comandam o inquérito. Penso que seja impreterível bom senso neste confronto. Uma amizade íntima, de infância, logo, de longa data, tem de ser considerada. Perguntemos a nós mesmos: se fossemos possuidores de uma grande riqueza, não emprestaríamos certamente um apartamento a um amigo de infância nosso? Eu faria. E também aceitaria receber esse favor, sem problemas de consciência, evidentemente por não exercer nenhuma função administrativa pública, da mesma maneira que Sócrates usufruiu, após , e não durante, funções dessa natureza. É certo que Carlos Santos Silva parece ter um papel de "fantoche" devido à facilidade com que empresta dinheiro, ou como recebe indicações, uma "lagartixa", enfim, mas não há crime nisso. Um argumento que fundamenta isso, é a facilidade com que os procuradores também encaminham as respostas dele, em inquérito, e isso penso que também não seja correto. Tentam, muitas vezes, forçar respostas que sejam "úteis".
É desumano, um acto ignóbil, julgar a postura e comportamentos de Sócrates neste inquérito. Desconhecemos, na totalidade, várias informações sobre este inquérito. O tempo de duração, por exemplo, (não nos esqueçamos que a Sic, interessar-lhe-á, sempre, escolher as partes que aludem a uma perpassável polémica), que pode explicar o estado de sublevação: imaginem-se numa sala, por várias horas, sobre um inquérito exaustivo; a indiligência com que os procuradores perseguem um erro no discurso (o modo como um dos procuradores refuta Sócrates, dizendo que se fosse no caso dele, lembrar-se-ia do método de pagamento de umas férias em Veneza, hipoteticamente, em Veneza). Dentro dessa linha, proscrever o governo de Sócrates por responsabilidades políticas, na óptima de quem critica a sua governação, exigindo assim uma condenação por isso, é eticamente pernicioso. Basta ser racional para o afirmar.
Sobre a sua obra científica, só uma coisa está provada: a compra de exemplares, por parte de um amigo, (de infância, embora aqui, de infância ou não, seja indiferente) suficientes para uma reedição. Isto é unicamente o que se consegue provar, a meu ver. No entanto, isto não constitui crime. Poder-se-á dizer que é um defeito humano, a vaidade, mas, crime não o é. Muita gente, gostava que fosse, mas não é. Uma pergunta que faço é se essa vaidade demonstra peremptoriamente o seu falhanço académico. Não, não demonstra.
A figura de Sócrates levantará sempre desacordo de opiniões. Uns, como eu, acreditarão sempre na proeminência do seu carácter, força e índole de combate por uma democracia acrisolada. Outros nutrem um ódio extenso, permanente, que estará sempre protegido até uma condenação.